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terça-feira, 3 de maio de 2011

SEXO E HONORÁRIOS MÉDICOS

Há alguns anos, os médicos de Londres se mobilizaram para exigir aumento dos honorários pagos pelas operadoras de planos de saúde. Pesquisas da época fizeram uma constatação intrigante: no centro de Londes, uma garota de programa cobrava, por uma hora de serviços sexuais, o dobro de uma consulta médica. Os economistas, como sempre, meteram sua colher no debate e tentaram responder a uma pergunta: como pode uma garota de programa, sem estudo e sem investir tempo e dinheiro em formação profissional, receber o dobro do que é pago a um médico?

Como a economia não é regida por leis morais, as explicações devem ser buscadas na estrutura de mercado de ambas as atividades. De início, vale lembrar que o sexo é trocado em dois “mercados”. Em um, as transações não envolvem dinheiro, pois a recompensa das partes está no amor e no prazer do ato em si. Aqui, a expressão “mercado” é imprópria. Em outro, o sexo é uma grande indústria e envolve extensa gama de bens e serviços. Desde filmes pornôs, revistas, produtos eróticos, motéis, agenciamento, até o ato sexual em si. Trata-se de um setor imenso, submetido às leis da economia.

Algumas explicações para a diferença na remuneração podem ser encontradas comparando os aspectos mercadológicos dos dois serviços, com destaque para os seguintes:

1. Em qualquer mercado há três elementos essenciais: o produto, a oferta e a procura. Ou seja, a mercadoria, o vendedor e o comprador. Os preços refletem a oferta dos serviços, a composição da demanda e a forma como o processo produtivo é realizado.

2. No mercado de sexo de alto nível, a concorrência não é muito grande, pois a oferta é feita, geralmente, por mulheres jovens, bonitas e despojadas de inibição moral (que, na Inglaterra, são escassas), e a carreira é curta, já que é difícil sobreviver na atividade depois dos trinta e poucos anos.

3. Embora não haja monopólios nem impedimentos ao ingresso na atividade, não é grande o número de mulheres que se dispõem a prestar tais serviços, seja pela carência de atributos físicos, seja por constrangimento moral ou inibições sociais.

4. Quanto aos honorários médicos há, entre outros, um importante elemento inibidor do seu valor: a existência de um forte concorrente, o governo, que oferece, gratuitamente, assistência médica pelo SUS, ao qual o paciente pode recorrer, caso não queira pagar plano particular. Já para os serviços sexuais, esse não é caso, pois eles não são oferecidos por nenhum programa governamental. Se alguém os quiser, só pode obtê-los por dois meios: ou por amor, portanto, de graça; ou pagando. Se bem que, do jeito que nossos políticos gostam de legislar sobre tudo, não é impossível aparecer algum deputado propondo uma “Bolsa-Prazer” para os pobres; uma espécie de programa de inclusão sexual.

5. Os planos privados atuam no vácuo da ineficiência do governo, mas não podem cobrar preços muito altos nem baixar a qualidade, pois se ficarem exatamente iguais ao SUS, por que alguém pagaria um plano?

6. Os compradores dos serviços sexuais estão concentrados em homens que, por razões óbvias, não fazem orçamentos, não pechincham e não dão cheques sem fundos, situações que forçam os preços para cima. Aqui, o gasto não é muito racional, no sentido econômico da expressão.

7. O gasto médico é feito, em geral, contra a vontade do consumidor, pois deriva de algo indesejado (a doença). Já o gasto com sexo é feito em função de vontade e busca de prazer, o que, convenhamos, é muito mais eficaz para aumentar a procura.

8. O setor de planos de saúde sofre a distorção do preço do serviço não ser pago pelo paciente diretamente ao médico, mas pela operadora do plano. Isso gera algumas imperfeições: são solicitados mais exames do que o necessário; os pacientes relaxam no número de consultas; o custo de administração dos planos é alto e o preço não é combinado entre comprador (o paciente) e vendedor (o médico).

Enfim, são mercados diferentes, cujos preços refletem suas peculiaridades e imperfeições. Os médicos merecem ganhar bem por várias razões. Mas, a comparação com o mercado do sexo não foi feliz. É preciso buscar melhores argumentos.

José Pio Martins, economista, é Reitor da Universidade Positivo.

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