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terça-feira, 3 de maio de 2011

OS MALDITOS CAPITALISTAS

Eu fazia palestra sobre empreendedorismo para um grupo de jovens, e havia na plateia um sujeito que destoava da turma por ter o dobro da idade da garotada e ostentar uma barba branca. Ele pediu a palavra e disse que a miséria do mundo somente acabará quando acabarem os “malditos capitalistas” e não houver mais empresários privados. Pedi que ele explicasse três questões:

a) como seriam as unidades produtivas no seu sistema, quem as montaria e as dirigiria?
b) como seriam as decisões de o que produzir, quanto produzir e para quem produzir? c) qual a garantia de que haveria o máximo de produção possível?

O sujeito confessou-se anticapitalista, saudosista do comunismo, embora sem instrução formal em economia. O debate foi educado, e ele ficou apenas na bronca antiempresarial e na indignação com a pobreza. De minha parte, aventurei algumas explicações.

O conceito de empresa surgiu com a descoberta da agricultura, há 10 mil anos. Um dia, um homem escolheu um pedaço de terra livre, cortou o mato e convidou outras pessoas para ajudar no plantio e na colheita. Em pagamento, o homem ofereceu, aos que o ajudaram, uma parte da safra.

Esse homem disse, aos operários, uma frase que deu origem à propriedade: “Isto é meu”. Todos aceitaram, pois qualquer um poderia seguir viagem, pegar um pedaço de terra livre e também dizer: “Isto é meu”. A coisa foi evoluindo e esse homem passou a tomar decisões de cuidar da terra, organizar as tarefas, orientar os ajudantes e fazer a partilha da colheita. Foi aí que surgiram o empresário, a livre iniciativa e a liderança.

Num segundo momento, os ajudantes (operários) passaram a ser contratados sem interesse direto no resultado da colheita, pois o proprietário passou a pagá-los com estoques guardados de colheitas anteriores. Os ajudantes recebiam por seu trabalho, fosse a safra boa, ruim ou nula. O risco era do dono da terra. Com a evolução da ciência e da tecnologia, o homem-dono passou a comprar ferramentas para ajudar os operários no manejo da lavoura. Foi quando a produtividade (que é a produção por hectare de terra) cresceu acentuadamente, propiciando que ambos se beneficiassem: o operário, que pôde ter um pagamento maior, e o proprietário, que pode reter uma safra maior.

Os séculos se passaram e, um dia, alguém resolveu dizer que “ninguém mais poderia ser dono, nem da terra, nem da fábrica”. Surgia o comunismo. O Estado seria proprietário de tudo, nomearia gerentes para cuidar de cada unidade de produção (empresa) e a colheita seria dividida com todos. Marx e Prodhoun diziam que “toda propriedade é um roubo”. Só que eles não contavam com uma armadilha: sem dono das terras e das fábricas, ninguém mais tinha grande interesse individual no tamanho da produção.

A princípio, a ideia era boa: dar a todos uma fatia igual no resultado. Mas o que se viu foi uma coisa simples: desprovidos de incentivo, os gerentes e os operários, tantos os rurais quanto os industriais, deixaram a produção despencar, disseminando fome e miséria. A União Soviética foi o berço dessa experiência de engenharia social, que durou setenta anos, deixou um rastro de fome e de pobreza e desmoronou em 1989. Mas, lá, a fome não se originava da má distribuição da produção. Originava-se do fato de não haver produção.

O comunismo, defendido pelo sujeito na plateia de minha palestra, fracassou completamente e os malditos capitalistas foram chamados para empreender, produzir e enriquecer. Quando perguntaram a Deng Xiaping, Secretário-Geral do Partido Comunista Chinês, que conselho daria aos jovens do país, ele respondeu: “Enriqueçam! Enriqueçam!”.

Pois bem, o capitalismo é isso: um sistema de propriedade privada dos meios de produção, que incentiva o risco e o espírito empreendedor e promove a riqueza dos “malditos empresários”, tudo para que a sociedade tenha o máximo de produção possível, sem o que não há como melhorar a vida de todos. A briga pela distribuição de renda é boa quando existe renda (a outra face do produto). Quando não há renda, a briga pela distribuição é a disputa pelas migalhas. Até Karl Marx reconheceu isso, quando disse, na “Ideologia Alemã”, que “enquanto não houver aumento da produtividade capaz de gerar abundância, a briga pela redistribuição de fatias do bolo será apenas uma briga pela ‘die alte Scheisse’ (a velha merda)”.

Foi essa historinha que contei para a garotada e o barbudinho socialista. Ele gostou, mas acho que não se convenceu. Para muitos, o comunismo é religião.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.

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