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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Rio de Janeiro vai receber a próxima edição da Jornada Mundial da Juventude

MADRI, Espanha — Pelo menos 60.000 jovens da América Latina e do Caribe, vindos principalmente do Brasil e do México, participam nesta semana, em Madri, da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), num momento em que está sendo preparada a próxima edição, que acontecerá pela primeira vez no Rio de Janeiro, em 2013.

O Brasil, com 14.000 jovens inscritos e o México, com 8.000, são os países com maior número de peregrinos, segundo cifras dos organizadores.

Os latino-americanos representam cerca de 14% dos presentes, num total de 450.000 jovens. Mas este número pode ser triplicado nas jornadas, entre esta terça-feira e o domingo, somando um milhão de pessoas.

A região, que só acolheu o evento uma vez, em 1987, em Buenos Aires, voltará a recebê-lo em 2013 no Rio de Janeiro, anunciou o Vaticano. Domingo, ao final da JMJ, Bento XVI fará o anúncio da cidade carioca, oficialmente.

Será um ano antes do mundial de futebol, previsto para aquele ano no Brasil.

"Para o padre Anísio Ribeiro da Silva, de 40 anos, "um evento desse tipo no Brasil deve ajudar a juventude a perceber que não estamos sós; é o fortalecimento de nossa fé", estima.

"Estamos muito felizes em receber este evento no Rio, é muito importante que seja no Brasil", coincide Rodolfo de Assis, de 23 anos, que "vai preparar, a partir de agora, as próximas jornadas" em seu país.

A escolha do Brasil para outro evento internacional, que se acrescenta ao Mundial de futebol de 2014 e às Olimpíadas de 2016, responde ao "grande crescimento econômico do país em pouco tempo", destaca Renato Brigati, paulistano de 21 anos, recém-chegado ao colégio de Madri no qual pernoitará durante a JMJ.

O evento permitirá mostrar ao mundo "a riqueza cultural" do Brasil e "a alegria e a hospitalidade dos brasileiros", ressaltam ambos, mas também "a harmonia entre sua gente, contagiando o mundo", acrescenta orgulhoso Yuri Rebello, de 20 anos, vindo de Belém.

De qualquer forma, pagar os cerca de 190 euros de inscrição na JMJ não está ao alcance de todos.

A colombiana María Isabel Espinosa, de 30 anos, organizou para conseguir o dinheiro "rifa de uma televisão de plasma".

Seu compatriota Giovanni Montoya, estudante de contabilidade de 23 anos, "paga a passagem a crédito".

"Gostaria de trocar ideias em Madri, porque há muitas coisas que não concordo", comenta uma estudante de arquitetura, a chilena Andrea Urbina, de 20 anos, para quem a Igreja "está com quem sofre e com os pobres, sem nenhuma sombra de dúvida".

Milhares de peregrinos se reuniram para uma missa ao ar livre no coração de Madri nesta terça-feira. A celebração dá início a Jornada Mundial da Juventude, um evento de seis dias que contará com a presença do Papa Bento XVI.

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terça-feira, 9 de agosto de 2011

Mensagem aos Jovens Economistas Brasileiros

21 de julho de 2009

Por Marcus Eduardo de Oliveira

"Perceber que o mais importante é o social foi a
descoberta mais relevante de minha vida"
Celso Furtado, em O Longo Amanhecer

Em "Princípios de Economia", Alfred Marshall (1842-1924) afirma que a Economia "é um estudo dos homens tal como vivem, agem e pensam nos assuntos diários da vida".

Gregory Mankiw diz que "Economia é um grupo de pessoas que interagem entre si".
Das muitas definições/objetivos que o termo Economia carrega talvez a de Colin Clark (1905-1989) seja a que melhor se enquadra naquilo que entendemos ser o objetivo precípuo das ciências econômicas: "O objetivo da economia não é a produção de riqueza, mas proporcionar bem estar aos indivíduos", nos diz C. Clark.

O certo é que desde a obra seminal de Adam Smith, (A Riqueza das Nações) as ciências econômicas vêm ganhando destaque e relevo na administração pública, guardando assim estreita sintonia com a origem do termo que remonta ao pensador grego Xenofonte (430-355 a.C) que definiu Economia pela primeira vez como "administração da casa"; nos dias de hoje, também pode ser entendido como "administração da coisa pública".

Feitas essas primeiras incursões o fito deste artigo se põe agora a discutir junto aos jovens economistas brasileiros qual o atual e o mais preponderante papel que a economia (enquanto ciência) vem desempenhando na sociedade moderna e, em especial, em sociedades que amargam profundas e históricas desigualdades sociais, como é o típico caso brasileiro.

Quantos de nossos jovens, recém saídos das universidades, diplomados em Ciências Econômicas, se põem a perguntar: quais os desafios da profissão de economista? E agora, como economista formado, o que quero e devo fazer? Como devo agir? Quais são as inquietações reflexivas a que um economista estará exposto? Quais interrogações os cercarão?

Os desafios da profissão em uma sociedade desigual

Uma primeira constatação que o jovem economista brasileiro se depara ao chegar ao mercado de trabalho, é que é impossível fechar os olhos para as gritantes conseqüências sociais que o atual modelo econômico desagregador impõe a grande parte da população que ora encontra-se sem emprego, sobrevivendo no limite, habitando os já conhecidos "bolsões de pobreza".

Nesse pormenor, a exclusão social será, certamente, uma situação em que o jovem economista porá um olhar crítico para um completo entendimento da situação social que o aguarda. Talvez esteja ai o primeiro e mais importante desafio para os jovens economistas brasileiros desse século XXI: entenderem as razões que levam um país como o Brasil, com grande potencial de recursos, a amargar um quadro vexatório em quesitos sociais.

Cabe a esses jovens economistas tentar explicar como é possível, numa sociedade moderna, a ocorrência de fortíssima segregação social que põe de um lado os incluídos e, do outro, os excluídos; os ricos-milionários separados dos pobres-miseráveis; os sem terra segregados dos latifundiários. Em suma, um país formado por uma sociedade elitista e uma massificação de excluídos.

Aos jovens economistas conhecedores de história econômica caberá responder por que ao Brasil, historicamente, coube um papel específico na economia mundial de grande fornecedor de commodities e, dessa maneira, enquanto os mercados externos eram (e são) abastecidos pelo trabalho dos brasileiros, a economia interna regressa no tempo, desamparando os que aqui labutam.

O desafio maior que espera esses jovens economistas no mercado de trabalho talvez seja estudar, pormenorizadamente, essa exclusão social a que fizemos alusão a fim de "entender" um país que é capaz de produzir e exportar aviões, mas incapaz de alimentar decentemente quase 40 milhões de pessoas. Um país que, por anos a fio, tem sido o maior produtor e exportador de suco de laranja, mas que abriga dezenas de milhares de crianças que nunca tomaram um copo desse suco. Um país que fabrica e exporta calçado de qualidade, mas muitos dentre sua população ainda andam descalços dormindo ao relento dos grandes centros urbanos.

Está reservado aos jovens economistas brasileiros, como um dos mais intensos desafios da profissão, responder os motivos de sermos uma das sociedades mais desiguais do mundo, com forte concentração de renda, em que os meios de produção estão nas mãos de apenas 6% da população. Um país em que de cada 20 brasileiros, apenas um é dono de alguma propriedade geradora de renda (empresa, imóvel ou mesmo o conhecimento).

Esses jovens economistas brasileiros da atualidade, mais do que qualquer outro profissional das ciências humanas, têm a árdua tarefa de explicar por que temos uma carga tributária que onera tanto os pobres (os 10% mais pobres pagam 44,5% mais impostos do que os 10% mais ricos); por que nossa reforma agrária nunca saiu do papel, sendo nosso país o quinto maior em extensão territorial do planeta; um país que exporta vitaminas, mas, no entanto, 40 milhões dos que aqui habitam passam fome.

Especificamente sobre a questão agrária, que no bojo está implícita o paradoxo de muita terra disponível e muita gente passando fome, segundo os Cálculos do Plano Nacional de Reforma Agrária – Cadastro do INCRA – existem, aproximadamente, 55 mil imóveis rurais classificados como grandes proprietários improdutivos, que controlam 116 milhões de hectares. Eles são apenas 1% de todos os proprietários rurais do Brasil. Também sobre isso deverá o economista moderno lançar análise reflexiva.

O desafio da retomada do crescimento econômico

Esses jovens economistas que ora estão entrando no mercado de trabalho vão se deparar com uma armadilha específica que põe severas amarras à economia brasileira. Atualmente, embora o governo afirme o contrário, a economia brasileira não cresce porque está presa a uma armadilha de altas taxas de juros e baixas taxas de câmbio que mantém as taxas de poupança e de investimentos deprimidas. De tal maneira não há espaço para a criação da demanda necessária (desestímulo ao mercado interno) para que a taxa de acumulação de capital alcance o nível necessário à retomada do crescimento econômico.

Crescimento econômico, por sinal, será algo que deverá perseguir o economista todo o tempo; principalmente aqueles que buscarem na administração pública uma colocação no mercado de trabalho. Mais do que encontrar modelos que respondam por uma adequada taxa de crescimento da economia, deverá o economista, a serviço do setor público, ter clara noção de que o crescimento econômico para ser solidificado e produzir frutos deverá esse ser transformado em desenvolvimento.

Para tanto, o economista moderno obrigatoriamente necessitará ter uma visão ampla do processo social, visto que desenvolvimento econômico, no dicionário da profissão, significa qualidade de vida, significa ainda bem-estar a todos.

Combinando compreensão teórica com explicação técnico-didática, esse profissional somente estará apto a exercer sua profissão, à medida que conseguir explicar os fatos econômicos dos tempos atuais com o rigor de excelência que se espera daquelas que tratam a profissão com esmero. E somente conseguirá fazer isso, mediante uma visão panorâmica do ambiente econômico, estando, nesse pormenor, aberto ao processo de criação, uma vez que a sociedade é algo que os homens não param de refazer.

Diante, portanto, de uma sociedade e de sistemas econômicos (incluindo a atividade econômica) que estão longe de serem estáticos, pois suas naturezas são dinâmicas, o economista moderno deve antes ser um analista social capaz de aferir com extrema sensibilidade as manifestações daqueles que almejam construir uma sociedade plural.

Cabe insistir, nesse pormenor, que em sociedades com agudos desequilíbrios sociais, o primeiro compromisso da macroeconomia sempre deverá ser o de erradicar a pobreza, visto que a pluralidade em uma sociedade somente ganhará espaço quando o coletivo sair fortalecido, embora os manuais de introdução à economia insistam em pregar o individualismo.

Depois de erradicada a miséria e banido os "bolsões de pobreza" que ainda marcam a ferro e fogo a história econômica recente desse país, com a economia doméstica, aos poucos, se ajustando aos padrões de bem-estar coletivo, pensar-se-á na criação de riquezas, como muitos entendem ser esse o real e primeiro objetivo da economia.

Antes disso, uma longa e árdua tarefa espera pelos jovens economistas: a de fazer da economia, por meio da cooperação, uma ferramenta capaz de incluir. Para tanto, cabe ao observador da economia entender que essa ciência não se restringe apenas à frieza dos números, das taxas, dos índices, da econometria, da matematização constante, mas, antes, trata-se de uma economia que tem no ser humano seu ponto focal; afinal, como disse Marshall, a economia "é um estudo dos homens tal como vivem, agem e pensam nos assuntos diários da vida".

Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor universitário.
Mestre pela USP em Integração da América Latina e Especialista em Política Internacional
Autor do livro "Conversando sobre Economia" (ed. Alínea)

segunda-feira, 20 de junho de 2011

SÉCULO 21, AGENDA DO SÉCULO 19

Uma das razões do atraso brasileiro são as escolhas erradas em relação
ao que é importante e o que é prioritário, o que contribuiu para o
país se especializar em combater o inimigo errado e fazer os
investimentos menos capazes de superar o atraso. Citemos dois fatos:
Fato 1. Os bancos vêm apresentando altos lucros em seus balanços,
provocando, como sempre, broncas e protestos. Um parlamentar afirmou
que teria de haver um limite ético para o lucro dos bancos. Será
mesmo? Valem aí duas perguntas: a) com quais critérios se poderia
julgar o lucro de uma atividade empresarial? b) será que deve haver
limite ético para o lucro de qualquer empresa? Um exemplo
interessante: a Petrobras, sozinha e beneficiada pelo monopólio,
lucrou mais do que dez grandes bancos juntos sem que os detratores dos
banqueiros tenham proposto um limite ético para o lucro da Petrobras.
Analisemos o caso. O que deve ser tomado como base para se saber se o
lucro é condenável ou não é apenas "a forma como ele é obtido".
Primeiro, é aceitável, e desejável, todo lucro que derive de atividade
reconhecida pela sociedade como algo de valor, útil e necessária.
Segundo, é inaceitável todo lucro obtido em atividade não reconhecida
pela sociedade como útil e de valor ou mediante favores ou privilégios
negados aos concorrentes.
Na época da inflação, o sistema financeiro chegou a representar um
quinto de todo o Produto Interno Bruto (PIB), o que não é razoável,
situação possível porque o organismo econômico vivia doente, sob
infecção inflacionária. O volume de atividade e de lucro dos bancos
era muito superior ao valor reconhecido pela sociedade e bem maior do
que internacionalmente se aceita como percentual razoável em relação
ao PIB. Essa situação era condenável, mas não por culpa dos bancos, e,
sim, por culpa de uma economia distorcida pela inflação e por governos
perdulários.
Nesse assunto, não há que meter a ética no meio nem culpar os
banqueiros, pois o responsável pela inflação mora em Brasília, nos
governos estaduais e nas prefeituras. Ademais, a moral situa-se em
outra ordem. Os bancos são meras empresas, que se nutrem do mercado,
saudável ou doente. Os bancos são necessários em qualquer economia,
mas devem estar limitados ao tamanho razoável do setor financeiro em
relação ao todo. O tamanho exagerado dos bancos  vinha  da inflação e
bastou que ela fosse debelada para que as atividades bancárias
retrocedessem muito. Se o setor financeiro diminuiu, não foi por
razões morais; foi por razões econômicas.
Fato 2. O governo anunciou que metade da população brasileira não tem
acesso a saneamento básico. Isso é tenebroso, contra o que a sociedade
precisa se indignar e lutar. Os especialistas afirmam que uma criança
entre zero e três anos e que sofra alguma doença derivada da falta de
água tratada pode ter sua acuidade mental prejudicada pelo resto da
vida. Essa criança tem sua capacidade intelectiva reduzida, fica com
dificuldades para aprender e sua qualificação profissional é
prejudicada.
Se é certo que a criança pode ter sua capacidade mental afetada por
doenças derivadas da simples falta de esgoto e de água tratada,
passando a ter dificuldades para aprender os conteúdos da educação
básica, então o saneamento deveria ser elevado à condição de
prioridade maior do país. Na semana em que abundaram notícias sobre o
drama do saneamento básico, qual foi o grande assunto no governo?
Estádios de futebol e trem bala.
Um país em que metade de sua população não tem rede de esgoto está com
o futuro seriamente comprometido. É triste demais, sobretudo se esse
país não for miserável, como é o caso do Brasil. Cabe perguntar: "Para
onde estão indo os 40% da renda nacional que a sociedade entrega ao
governo em forma de tributos?". A revista ÉPOCA, em sua edição de
12/06/2011, ajuda a responder a essa pergunta. Em extensa reportagem,
a revista mostra que somente o governo federal tem participação em 675
empresas, entre estatais que ele controla e empresas privadas das
quais ele participa como sócio.
Definitivamente, no quesito de saber o que é importante e que é
prioridade, o Brasil tem falhado. E não há sinais de que isso vá mudar
tão cedo, apesar de a presidente Dilma Rousseff ter levantado o
problema da falta de saneamento em seus debates quando era candidata.
Mas, candidato é candidato, governo é governo.
José Pio Martins, economista, é Reitor da Universidade Positivo.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Em carta, Dilma tece elogios e atribui fim da inflação a FHC

FOLHA DE SÃO PAULO

Em carta recheada de elogios, a presidente Dilma Rousseff classificou Fernando Henrique Cardoso como "acadêmico inovador", "político habilidoso" e "o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica".

A mensagem foi publicada ontem em site especial criado para comemorar os 80 anos de FHC, que faz aniversário no próximo sábado.

No texto, Dilma diz que o tucano acredita no "diálogo como força motriz da política", "foi essencial para a consolidação da democracia brasileira" e luta por seus ideais "até os dias de hoje".

"Não escondo que nos últimos anos tivemos e mantemos opiniões diferentes, mas justamente por isso maior é a minha admiração por sua abertura ao confronto franco e respeitoso de ideias."

A presidente também elogiou FHC por ter sido o primeiro antecessor desde Juscelino Kubitschek a entregar a faixa a um político oposicionista também eleito.

E despediu-se chamando o adversário de "querido presidente" e transmitindo-lhe um "afetuoso abraço".

Dilma conviveu com FHC em 2002, quando integrou a equipe de transição montada pelo então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.

O tom elogioso da carta de Dilma contrasta com a relação conflituosa entre Lula e FHC. Enquanto ocupou o Palácio do Planalto, o petista acusou o antecessor de deixar uma "herança maldita".

Em abril, o acusou de querer "esquecer o povão", após o tucano defender que a oposição se volte para a "nova classe média". FHC se irritou e desafiou Lula a disputar uma nova eleição contra ele.

Além da carta de Dilma, o site comemorativo reúne depoimentos elogiosos de políticos brasileiros e estrangeiros, como Bill Clinton e Tony Blair, ex-ministros, empresários e celebridades como Roberto Carlos, Paulo Coelho e o ex-jogador Ronaldo.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Livro propõe aplicação de modelos econômicos na criação dos filhos

IARA BIDERMANFOLHA DE SÃO PAULO

Se você disser que aplica teorias econômicas na criação de seus filhos, vão pensar que: a) você só pensa em dinheiro; b) você só está preocupado com o futuro financeiro de seus herdeiros; c) você é um visionário; d) você é um monstro.

O economista australiano Joshua Gans pode não se encaixar em nenhuma das alternativas acima, mas ele afirma que usar o pensamento econômico para criar os filhos é uma forma inteligente de resolver conflitos, além de gerar benefícios aos pais e às crianças.


Adriano Vizoni/Folhapress
Economista faz sucesso ao adaptar ferramentas do mundo dos negócios à educação das crianças
Economista faz sucesso ao adaptar ferramentas do mundo dos negócios à educação das crianças

Não se trata de grana. Deixando de lado questões claramente econômicas, como calcular preços de fraldas ou mensalidades escolares, ele aplicou, com seus três filhos, estratégias originalmente usadas em negociações político-financeiras para resolver desde questões prosaicas (ensinar a usar o penico) até altruístas (o que fazer para que os filhos se tornem pessoas independentes).

BENEFÍCIOS
 
As tentativas de ser um bom economista e um bom pai (alguns sucessos, muitos fracassos) já renderam a Gans benefícios de curto e médio prazo.

Ele começou imediatamente a usar os exemplos domésticos para ilustrar suas lições de teoria econômica a alunos de MBA. Fez sucesso. As histórias da vida real deixaram as aulas mais animadas, os alunos mais interessados e os conceitos mais claros.

Gans então criou uma "marca" para essa sua proposta educativa. "Parentonomics", que junta pais ("parents") com economia ("economics") e remete ao modelo dos "Freakonomics" ""outro termo de sucesso e nome de um livro que já vendeu mais de 4 milhões de exemplares.

Em "Freakonomics", o economista norte-americano Steven Levitt mostra como aplicar princípios econômicos a situações da vida cotidiana, além de colocar em dúvida verdades preestabelecidas sobre temas tão variados e polêmicos quanto corrupção e aborto.

Não é preciso ser um especialista em mercado de futuros para descobrir que, no médio prazo, as aplicações de Gans também renderam um livro.

Hoje, os filhos do economista estão com 12, dez e seis anos. Resta saber se os benefícios de longo prazo, que são os que realmente importam, virão. Ou se faz sentido pensar em "educação de resultados" ou nos "lucros embutidos" das atitudes que tomamos em relação às crianças.

O economista Bernardo Guimarães, autor de "Economia Sem Truques" (ed. Campus-Elsevier), diz que para educar filhos é preciso duas coisas: definir objetivos e o que é preciso fazer para alcançá-los. "A economia ajuda muito pouco no primeiro quesito, mas pode ser um excelente instrumento na segunda parte da questão."

As grandes ferramentas oferecidas por Gans são os incentivos e as negociações. Mas a maioria dos pais e das mães já vive fazendo isso, mesmo que eles não entendam nada de economia.

"Muitas das coisas que educadores falam podem ser traduzidas por termos usados na economia. O que a teoria econômica te dá é um arcabouço para pensar nessas coisas, tentar entender por que algumas escolhas são feitas e as reações que provocam", diz Guimarães.

Marcos Fernandes, professor da Escola de Economia da FGV (Fundação Getúlio Vargas) de São Paulo, afirma que é possível tirar lições das estratégias usadas em empresas ou relações internacionais para usar na educação.

MENOR CUSTO
 
"É politicamente incorreto dizer isso, mas você pode usar modelos [econômicos] para criar os seus filhos com o menor custo para ambas as partes", diz Fernandes.

O modelo proposto por Gans é a teoria dos jogos, estudo das interações estratégicas para a tomada de decisões que tragam menos custos e mais benefícios aos envolvidos.

Segundo Fernandes, essa teoria funciona com os filhos e pode ajudar os pais a encontrar um caminho entre as duas estratégias educacionais debatidas hoje: a autoritária e a igualitária.

O professor da FGV é pai de um garoto de 16 e de uma menina de 11 anos. "Aprendi a não deixar meu lado emocional me dominar na hora de educá-los, para pode aplicar a teoria dos jogos nas negociações que faço com eles."

Para o autor de "Parentonomics", é o fator emocional que atrapalha a tomada de decisões eficientes na educação dos filhos.

Ele tenta convencer os pais sobre a sua teoria mostrando as recompensas colhidas a partir dessa maneira de agir (os tais dos incentivos).

Por exemplo: o custo emocional de deixar um bebê chorar por algum tempo no berço, porque ele não quer dormir, pode ser eliminado se você o pegar imediatamente no colo. O custo futuro dessa atitude é que será cada vez mais difícil acostumá-lo a dormir sozinho. Nada que "Super Nanny" e qualquer mãe de bom-senso não endossariam.

"Pensar nos benefícios a longo prazo ajuda a separar a parte emocional e recuperar o bom-senso. E o sono perdido", diz Gans.

Da manga do economista também saem estratégias para conseguir que os filhos adotem hábitos desejados (por exemplo, comer verduras) em troca de incentivos bem dosados (comer doces), sem inflacionar a oferta de guloseimas.

A importância dos incentivos não é novidade para educadores, mas, ao contrário do que acontece nas negociações econômicas, não é a base do negócio.

"Na criação dos filhos, a base é o afeto, o reconhecimento da criança, o acolhimento. As recompensas e punições vêm a partir e por causa disso", diz a psicóloga e terapeuta de família Marina Vasconcellos, da Unifesp.

PEDAGOGIA DE RESULTADOS

Como a teoria econômica é aplicada na educação dos filhos

EQUILÍBRIO COMPETITIVO

O que é
Se não há confiança, não há cooperação, e cada parte usa as respostas ou reações da outra para buscar o melhor resultado

Como se aplica
O bebê quer atenção e chora quando é colocado para dormir. Os gritos são uma oferta: "Eu paro de gritar se vocês me derem atenção"

JOGOS COM REPETIÇÃO

O que é
A mesma interação estratégica se repete ao longo do tempo

Como se aplica
O bebê no berço quer atenção, mas os pais percebem que o custo desse tipo de choro para a criança (a exaustão) implica que ela só vai continuar chorando enquanto tiver motivos para achar que vai funcionar

NEGOCIAÇÃO

O que é
Oferecer benefícios à outra parte que compensem algum custo que ela terá

Como se aplica
Os pais sinalizam que deixarão a criança comer algumas "bobagens" em troca de uma alimentação saudável na maior parte do tempo

EQUILÍBRIO COOPERATIVO

O que é
As pessoas se juntam para atingir o objetivo de forma a aumentar os benefícios para todos

Como se aplica
A negociação 'verduras x doces' leva a um equilíbrio cooperativo: a situação é boa para a criança, porque ela se alimenta bem e tem direito a suas guloseimas, e é boa para os pais, porque evita desgaste e eles conseguem garantir uma alimentação adequada

INCENTIVOS

O que é
Não são necessariamente monetários, mas as motivações suficientes para as pessoas fazerem algo que, aparentemente, não lhes trará nenhum benefício imediato

Como se aplica
Para um bebê, não há vantagem em trocar a fralda pelo penico, mas ele pode achar a troca interessante se receber aprovação carinhosa dos pais sempre que usar o banheiro.

terça-feira, 3 de maio de 2011

SEXO E HONORÁRIOS MÉDICOS

Há alguns anos, os médicos de Londres se mobilizaram para exigir aumento dos honorários pagos pelas operadoras de planos de saúde. Pesquisas da época fizeram uma constatação intrigante: no centro de Londes, uma garota de programa cobrava, por uma hora de serviços sexuais, o dobro de uma consulta médica. Os economistas, como sempre, meteram sua colher no debate e tentaram responder a uma pergunta: como pode uma garota de programa, sem estudo e sem investir tempo e dinheiro em formação profissional, receber o dobro do que é pago a um médico?

Como a economia não é regida por leis morais, as explicações devem ser buscadas na estrutura de mercado de ambas as atividades. De início, vale lembrar que o sexo é trocado em dois “mercados”. Em um, as transações não envolvem dinheiro, pois a recompensa das partes está no amor e no prazer do ato em si. Aqui, a expressão “mercado” é imprópria. Em outro, o sexo é uma grande indústria e envolve extensa gama de bens e serviços. Desde filmes pornôs, revistas, produtos eróticos, motéis, agenciamento, até o ato sexual em si. Trata-se de um setor imenso, submetido às leis da economia.

Algumas explicações para a diferença na remuneração podem ser encontradas comparando os aspectos mercadológicos dos dois serviços, com destaque para os seguintes:

1. Em qualquer mercado há três elementos essenciais: o produto, a oferta e a procura. Ou seja, a mercadoria, o vendedor e o comprador. Os preços refletem a oferta dos serviços, a composição da demanda e a forma como o processo produtivo é realizado.

2. No mercado de sexo de alto nível, a concorrência não é muito grande, pois a oferta é feita, geralmente, por mulheres jovens, bonitas e despojadas de inibição moral (que, na Inglaterra, são escassas), e a carreira é curta, já que é difícil sobreviver na atividade depois dos trinta e poucos anos.

3. Embora não haja monopólios nem impedimentos ao ingresso na atividade, não é grande o número de mulheres que se dispõem a prestar tais serviços, seja pela carência de atributos físicos, seja por constrangimento moral ou inibições sociais.

4. Quanto aos honorários médicos há, entre outros, um importante elemento inibidor do seu valor: a existência de um forte concorrente, o governo, que oferece, gratuitamente, assistência médica pelo SUS, ao qual o paciente pode recorrer, caso não queira pagar plano particular. Já para os serviços sexuais, esse não é caso, pois eles não são oferecidos por nenhum programa governamental. Se alguém os quiser, só pode obtê-los por dois meios: ou por amor, portanto, de graça; ou pagando. Se bem que, do jeito que nossos políticos gostam de legislar sobre tudo, não é impossível aparecer algum deputado propondo uma “Bolsa-Prazer” para os pobres; uma espécie de programa de inclusão sexual.

5. Os planos privados atuam no vácuo da ineficiência do governo, mas não podem cobrar preços muito altos nem baixar a qualidade, pois se ficarem exatamente iguais ao SUS, por que alguém pagaria um plano?

6. Os compradores dos serviços sexuais estão concentrados em homens que, por razões óbvias, não fazem orçamentos, não pechincham e não dão cheques sem fundos, situações que forçam os preços para cima. Aqui, o gasto não é muito racional, no sentido econômico da expressão.

7. O gasto médico é feito, em geral, contra a vontade do consumidor, pois deriva de algo indesejado (a doença). Já o gasto com sexo é feito em função de vontade e busca de prazer, o que, convenhamos, é muito mais eficaz para aumentar a procura.

8. O setor de planos de saúde sofre a distorção do preço do serviço não ser pago pelo paciente diretamente ao médico, mas pela operadora do plano. Isso gera algumas imperfeições: são solicitados mais exames do que o necessário; os pacientes relaxam no número de consultas; o custo de administração dos planos é alto e o preço não é combinado entre comprador (o paciente) e vendedor (o médico).

Enfim, são mercados diferentes, cujos preços refletem suas peculiaridades e imperfeições. Os médicos merecem ganhar bem por várias razões. Mas, a comparação com o mercado do sexo não foi feliz. É preciso buscar melhores argumentos.

José Pio Martins, economista, é Reitor da Universidade Positivo.

OS MALDITOS CAPITALISTAS

Eu fazia palestra sobre empreendedorismo para um grupo de jovens, e havia na plateia um sujeito que destoava da turma por ter o dobro da idade da garotada e ostentar uma barba branca. Ele pediu a palavra e disse que a miséria do mundo somente acabará quando acabarem os “malditos capitalistas” e não houver mais empresários privados. Pedi que ele explicasse três questões:

a) como seriam as unidades produtivas no seu sistema, quem as montaria e as dirigiria?
b) como seriam as decisões de o que produzir, quanto produzir e para quem produzir? c) qual a garantia de que haveria o máximo de produção possível?

O sujeito confessou-se anticapitalista, saudosista do comunismo, embora sem instrução formal em economia. O debate foi educado, e ele ficou apenas na bronca antiempresarial e na indignação com a pobreza. De minha parte, aventurei algumas explicações.

O conceito de empresa surgiu com a descoberta da agricultura, há 10 mil anos. Um dia, um homem escolheu um pedaço de terra livre, cortou o mato e convidou outras pessoas para ajudar no plantio e na colheita. Em pagamento, o homem ofereceu, aos que o ajudaram, uma parte da safra.

Esse homem disse, aos operários, uma frase que deu origem à propriedade: “Isto é meu”. Todos aceitaram, pois qualquer um poderia seguir viagem, pegar um pedaço de terra livre e também dizer: “Isto é meu”. A coisa foi evoluindo e esse homem passou a tomar decisões de cuidar da terra, organizar as tarefas, orientar os ajudantes e fazer a partilha da colheita. Foi aí que surgiram o empresário, a livre iniciativa e a liderança.

Num segundo momento, os ajudantes (operários) passaram a ser contratados sem interesse direto no resultado da colheita, pois o proprietário passou a pagá-los com estoques guardados de colheitas anteriores. Os ajudantes recebiam por seu trabalho, fosse a safra boa, ruim ou nula. O risco era do dono da terra. Com a evolução da ciência e da tecnologia, o homem-dono passou a comprar ferramentas para ajudar os operários no manejo da lavoura. Foi quando a produtividade (que é a produção por hectare de terra) cresceu acentuadamente, propiciando que ambos se beneficiassem: o operário, que pôde ter um pagamento maior, e o proprietário, que pode reter uma safra maior.

Os séculos se passaram e, um dia, alguém resolveu dizer que “ninguém mais poderia ser dono, nem da terra, nem da fábrica”. Surgia o comunismo. O Estado seria proprietário de tudo, nomearia gerentes para cuidar de cada unidade de produção (empresa) e a colheita seria dividida com todos. Marx e Prodhoun diziam que “toda propriedade é um roubo”. Só que eles não contavam com uma armadilha: sem dono das terras e das fábricas, ninguém mais tinha grande interesse individual no tamanho da produção.

A princípio, a ideia era boa: dar a todos uma fatia igual no resultado. Mas o que se viu foi uma coisa simples: desprovidos de incentivo, os gerentes e os operários, tantos os rurais quanto os industriais, deixaram a produção despencar, disseminando fome e miséria. A União Soviética foi o berço dessa experiência de engenharia social, que durou setenta anos, deixou um rastro de fome e de pobreza e desmoronou em 1989. Mas, lá, a fome não se originava da má distribuição da produção. Originava-se do fato de não haver produção.

O comunismo, defendido pelo sujeito na plateia de minha palestra, fracassou completamente e os malditos capitalistas foram chamados para empreender, produzir e enriquecer. Quando perguntaram a Deng Xiaping, Secretário-Geral do Partido Comunista Chinês, que conselho daria aos jovens do país, ele respondeu: “Enriqueçam! Enriqueçam!”.

Pois bem, o capitalismo é isso: um sistema de propriedade privada dos meios de produção, que incentiva o risco e o espírito empreendedor e promove a riqueza dos “malditos empresários”, tudo para que a sociedade tenha o máximo de produção possível, sem o que não há como melhorar a vida de todos. A briga pela distribuição de renda é boa quando existe renda (a outra face do produto). Quando não há renda, a briga pela distribuição é a disputa pelas migalhas. Até Karl Marx reconheceu isso, quando disse, na “Ideologia Alemã”, que “enquanto não houver aumento da produtividade capaz de gerar abundância, a briga pela redistribuição de fatias do bolo será apenas uma briga pela ‘die alte Scheisse’ (a velha merda)”.

Foi essa historinha que contei para a garotada e o barbudinho socialista. Ele gostou, mas acho que não se convenceu. Para muitos, o comunismo é religião.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.