A incerteza pode ser definida como a dúvida diante de duas ou mais alternativas. Incerteza é desconhecimento e ela desempenha papel central nas decisões de investimentos. O problema é especialmente complexo nas decisões de investimentos empresariais de prazo longo cujos riscos sejam muito altos no caso de ocorrerem cenários negativos.
Há incertezas espontâneas e incertezas criadas. As espontâneas dizem respeito aos fenômenos da natureza e aos fenômenos sociais não controlados diretamente por ninguém ou de baixo poder de controle. Neste grupo se encaixam as chuvas, as secas, os furacões, os eventos de mercado (como a inflação e as recessões) e os distúrbios políticos (como os ocorridos no Egito, na Líbia e na Tunísia).
No segundo grupo estão as incertezas criadas, em geral, pelos governantes. Clima hostil ao investimento privado, hábito de não respeitar contratos juridicamente perfeitos, rompimento de regras previamente acordadas, mudanças constantes na legislação de tributos, rejeição ideológica ao lucro, estes são eventos criados por governos, cujo efeito principal é assustar e afugentar os investidores. Uma região dedicada à busca de investidores terá maior ou menor êxito dependendo do grau de incerteza vigente.
A questão é que as incertezas, espontâneas ou criadas, produzem riscos, cabendo ao empreendedor a decisão de corrê-los, assumi-los ou desistir do negócio. Quanto às incertezas espontâneas, não há o que fazer, pois ninguém conhece o futuro e os fenômenos da natureza e os eventos sociais são, em maior ou menos medida, incontroláveis. No máximo, é possível examinar o passado, observar o presente e imaginar os cenários futuros possíveis.
O caso das incertezas criadas é diferente. Estas são obras dos governantes e estão sujeitas às decisões políticas. Logo, elas podem, por atos de gestão, ser minimizadas ou eliminadas. A base da economia e do progresso é o setor produtivo e não o governo, e é da economia privada que o governo tira os recursos necessários para sua própria subsistência e para os serviços públicos. Assim, criar incertezas por atos políticos, a ponto de potencializar riscos e provocar fuga de investidores, é comportamento estúpido.
Note que há diferença entre correr riscos e assumir riscos. Uma companhia de seguros assume riscos; seus segurados correm riscos. Ao possuir um veículo, você corre o risco de ser roubado ou de sofrer acidente no trânsito. Você não controla esse risco, ainda que tome cuidados para minimizar a probabilidade de sua ocorrência. As seguradoras, por sua vez, assumem riscos sobre base confiável de cálculos probabilísticos; por isso, elas apresentam lucros em seus balanços. Elas assumem o risco que o cliente corre e, se houver sinistro, pagam o prejuízo. Para tanto, cobram prêmios de seguro quando os clientes compram apólices de cobertura.
O que torna o ato apenas um negócio para a seguradora é o fato de ela operar de forma coletiva. Em um grupo de cem mil clientes, é previsível o percentual de carros que serão roubados ou acidentados, e a seguradora oferece proteção mediante pagamento de uns 5% sobre o valor do veículo. Por esse dinheiro ela assume o risco que você corre.
Quando um empresário planeja montar seu negócio, ele o faz sob incertezas econômicas, procura prever os riscos, espontâneos ou criados, e decide que riscos assumir (comprar proteção), que riscos correr e que riscos não enfrentar. Como não há como fazer hedge (comprar proteção) contra riscos políticos, o governante hostil a investimentos, que rompe contratos juridicamente válidos ou anula regras combinadas, notoriamente cria clima de fuga de investidores.
Visto sob a ótica do empresário, investir é arte e ciência e requer conhecimento, visão e intuição. O Barão de Rothschild, famoso banqueiro, dizia que o melhor momento para investir é quando o sangue corre pelas ruas. Ele dizia que, na tragédia, os ativos ficam baratos e, um dia, as guerras e os conflitos cessam e os negócios se recuperam. Essa é a hora de colher os lucros. Todos os que compraram ações quando as bolsas despencaram e tiveram paciência de esperar ganharam dinheiro.
Pois bem, se o Estado quiser atrair investimentos, a primeira coisa a fazer é acabar com a criação de incertezas nos gabinetes governamentais. Hostilizar investidores pode satisfazer a necessidade de odiar, mas não é receita de prosperidade.
José Pio Martins, economista, é Reitor da Universidade Positivo.
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