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terça-feira, 17 de maio de 2011

Livro propõe aplicação de modelos econômicos na criação dos filhos

IARA BIDERMANFOLHA DE SÃO PAULO

Se você disser que aplica teorias econômicas na criação de seus filhos, vão pensar que: a) você só pensa em dinheiro; b) você só está preocupado com o futuro financeiro de seus herdeiros; c) você é um visionário; d) você é um monstro.

O economista australiano Joshua Gans pode não se encaixar em nenhuma das alternativas acima, mas ele afirma que usar o pensamento econômico para criar os filhos é uma forma inteligente de resolver conflitos, além de gerar benefícios aos pais e às crianças.


Adriano Vizoni/Folhapress
Economista faz sucesso ao adaptar ferramentas do mundo dos negócios à educação das crianças
Economista faz sucesso ao adaptar ferramentas do mundo dos negócios à educação das crianças

Não se trata de grana. Deixando de lado questões claramente econômicas, como calcular preços de fraldas ou mensalidades escolares, ele aplicou, com seus três filhos, estratégias originalmente usadas em negociações político-financeiras para resolver desde questões prosaicas (ensinar a usar o penico) até altruístas (o que fazer para que os filhos se tornem pessoas independentes).

BENEFÍCIOS
 
As tentativas de ser um bom economista e um bom pai (alguns sucessos, muitos fracassos) já renderam a Gans benefícios de curto e médio prazo.

Ele começou imediatamente a usar os exemplos domésticos para ilustrar suas lições de teoria econômica a alunos de MBA. Fez sucesso. As histórias da vida real deixaram as aulas mais animadas, os alunos mais interessados e os conceitos mais claros.

Gans então criou uma "marca" para essa sua proposta educativa. "Parentonomics", que junta pais ("parents") com economia ("economics") e remete ao modelo dos "Freakonomics" ""outro termo de sucesso e nome de um livro que já vendeu mais de 4 milhões de exemplares.

Em "Freakonomics", o economista norte-americano Steven Levitt mostra como aplicar princípios econômicos a situações da vida cotidiana, além de colocar em dúvida verdades preestabelecidas sobre temas tão variados e polêmicos quanto corrupção e aborto.

Não é preciso ser um especialista em mercado de futuros para descobrir que, no médio prazo, as aplicações de Gans também renderam um livro.

Hoje, os filhos do economista estão com 12, dez e seis anos. Resta saber se os benefícios de longo prazo, que são os que realmente importam, virão. Ou se faz sentido pensar em "educação de resultados" ou nos "lucros embutidos" das atitudes que tomamos em relação às crianças.

O economista Bernardo Guimarães, autor de "Economia Sem Truques" (ed. Campus-Elsevier), diz que para educar filhos é preciso duas coisas: definir objetivos e o que é preciso fazer para alcançá-los. "A economia ajuda muito pouco no primeiro quesito, mas pode ser um excelente instrumento na segunda parte da questão."

As grandes ferramentas oferecidas por Gans são os incentivos e as negociações. Mas a maioria dos pais e das mães já vive fazendo isso, mesmo que eles não entendam nada de economia.

"Muitas das coisas que educadores falam podem ser traduzidas por termos usados na economia. O que a teoria econômica te dá é um arcabouço para pensar nessas coisas, tentar entender por que algumas escolhas são feitas e as reações que provocam", diz Guimarães.

Marcos Fernandes, professor da Escola de Economia da FGV (Fundação Getúlio Vargas) de São Paulo, afirma que é possível tirar lições das estratégias usadas em empresas ou relações internacionais para usar na educação.

MENOR CUSTO
 
"É politicamente incorreto dizer isso, mas você pode usar modelos [econômicos] para criar os seus filhos com o menor custo para ambas as partes", diz Fernandes.

O modelo proposto por Gans é a teoria dos jogos, estudo das interações estratégicas para a tomada de decisões que tragam menos custos e mais benefícios aos envolvidos.

Segundo Fernandes, essa teoria funciona com os filhos e pode ajudar os pais a encontrar um caminho entre as duas estratégias educacionais debatidas hoje: a autoritária e a igualitária.

O professor da FGV é pai de um garoto de 16 e de uma menina de 11 anos. "Aprendi a não deixar meu lado emocional me dominar na hora de educá-los, para pode aplicar a teoria dos jogos nas negociações que faço com eles."

Para o autor de "Parentonomics", é o fator emocional que atrapalha a tomada de decisões eficientes na educação dos filhos.

Ele tenta convencer os pais sobre a sua teoria mostrando as recompensas colhidas a partir dessa maneira de agir (os tais dos incentivos).

Por exemplo: o custo emocional de deixar um bebê chorar por algum tempo no berço, porque ele não quer dormir, pode ser eliminado se você o pegar imediatamente no colo. O custo futuro dessa atitude é que será cada vez mais difícil acostumá-lo a dormir sozinho. Nada que "Super Nanny" e qualquer mãe de bom-senso não endossariam.

"Pensar nos benefícios a longo prazo ajuda a separar a parte emocional e recuperar o bom-senso. E o sono perdido", diz Gans.

Da manga do economista também saem estratégias para conseguir que os filhos adotem hábitos desejados (por exemplo, comer verduras) em troca de incentivos bem dosados (comer doces), sem inflacionar a oferta de guloseimas.

A importância dos incentivos não é novidade para educadores, mas, ao contrário do que acontece nas negociações econômicas, não é a base do negócio.

"Na criação dos filhos, a base é o afeto, o reconhecimento da criança, o acolhimento. As recompensas e punições vêm a partir e por causa disso", diz a psicóloga e terapeuta de família Marina Vasconcellos, da Unifesp.

PEDAGOGIA DE RESULTADOS

Como a teoria econômica é aplicada na educação dos filhos

EQUILÍBRIO COMPETITIVO

O que é
Se não há confiança, não há cooperação, e cada parte usa as respostas ou reações da outra para buscar o melhor resultado

Como se aplica
O bebê quer atenção e chora quando é colocado para dormir. Os gritos são uma oferta: "Eu paro de gritar se vocês me derem atenção"

JOGOS COM REPETIÇÃO

O que é
A mesma interação estratégica se repete ao longo do tempo

Como se aplica
O bebê no berço quer atenção, mas os pais percebem que o custo desse tipo de choro para a criança (a exaustão) implica que ela só vai continuar chorando enquanto tiver motivos para achar que vai funcionar

NEGOCIAÇÃO

O que é
Oferecer benefícios à outra parte que compensem algum custo que ela terá

Como se aplica
Os pais sinalizam que deixarão a criança comer algumas "bobagens" em troca de uma alimentação saudável na maior parte do tempo

EQUILÍBRIO COOPERATIVO

O que é
As pessoas se juntam para atingir o objetivo de forma a aumentar os benefícios para todos

Como se aplica
A negociação 'verduras x doces' leva a um equilíbrio cooperativo: a situação é boa para a criança, porque ela se alimenta bem e tem direito a suas guloseimas, e é boa para os pais, porque evita desgaste e eles conseguem garantir uma alimentação adequada

INCENTIVOS

O que é
Não são necessariamente monetários, mas as motivações suficientes para as pessoas fazerem algo que, aparentemente, não lhes trará nenhum benefício imediato

Como se aplica
Para um bebê, não há vantagem em trocar a fralda pelo penico, mas ele pode achar a troca interessante se receber aprovação carinhosa dos pais sempre que usar o banheiro.

terça-feira, 3 de maio de 2011

SEXO E HONORÁRIOS MÉDICOS

Há alguns anos, os médicos de Londres se mobilizaram para exigir aumento dos honorários pagos pelas operadoras de planos de saúde. Pesquisas da época fizeram uma constatação intrigante: no centro de Londes, uma garota de programa cobrava, por uma hora de serviços sexuais, o dobro de uma consulta médica. Os economistas, como sempre, meteram sua colher no debate e tentaram responder a uma pergunta: como pode uma garota de programa, sem estudo e sem investir tempo e dinheiro em formação profissional, receber o dobro do que é pago a um médico?

Como a economia não é regida por leis morais, as explicações devem ser buscadas na estrutura de mercado de ambas as atividades. De início, vale lembrar que o sexo é trocado em dois “mercados”. Em um, as transações não envolvem dinheiro, pois a recompensa das partes está no amor e no prazer do ato em si. Aqui, a expressão “mercado” é imprópria. Em outro, o sexo é uma grande indústria e envolve extensa gama de bens e serviços. Desde filmes pornôs, revistas, produtos eróticos, motéis, agenciamento, até o ato sexual em si. Trata-se de um setor imenso, submetido às leis da economia.

Algumas explicações para a diferença na remuneração podem ser encontradas comparando os aspectos mercadológicos dos dois serviços, com destaque para os seguintes:

1. Em qualquer mercado há três elementos essenciais: o produto, a oferta e a procura. Ou seja, a mercadoria, o vendedor e o comprador. Os preços refletem a oferta dos serviços, a composição da demanda e a forma como o processo produtivo é realizado.

2. No mercado de sexo de alto nível, a concorrência não é muito grande, pois a oferta é feita, geralmente, por mulheres jovens, bonitas e despojadas de inibição moral (que, na Inglaterra, são escassas), e a carreira é curta, já que é difícil sobreviver na atividade depois dos trinta e poucos anos.

3. Embora não haja monopólios nem impedimentos ao ingresso na atividade, não é grande o número de mulheres que se dispõem a prestar tais serviços, seja pela carência de atributos físicos, seja por constrangimento moral ou inibições sociais.

4. Quanto aos honorários médicos há, entre outros, um importante elemento inibidor do seu valor: a existência de um forte concorrente, o governo, que oferece, gratuitamente, assistência médica pelo SUS, ao qual o paciente pode recorrer, caso não queira pagar plano particular. Já para os serviços sexuais, esse não é caso, pois eles não são oferecidos por nenhum programa governamental. Se alguém os quiser, só pode obtê-los por dois meios: ou por amor, portanto, de graça; ou pagando. Se bem que, do jeito que nossos políticos gostam de legislar sobre tudo, não é impossível aparecer algum deputado propondo uma “Bolsa-Prazer” para os pobres; uma espécie de programa de inclusão sexual.

5. Os planos privados atuam no vácuo da ineficiência do governo, mas não podem cobrar preços muito altos nem baixar a qualidade, pois se ficarem exatamente iguais ao SUS, por que alguém pagaria um plano?

6. Os compradores dos serviços sexuais estão concentrados em homens que, por razões óbvias, não fazem orçamentos, não pechincham e não dão cheques sem fundos, situações que forçam os preços para cima. Aqui, o gasto não é muito racional, no sentido econômico da expressão.

7. O gasto médico é feito, em geral, contra a vontade do consumidor, pois deriva de algo indesejado (a doença). Já o gasto com sexo é feito em função de vontade e busca de prazer, o que, convenhamos, é muito mais eficaz para aumentar a procura.

8. O setor de planos de saúde sofre a distorção do preço do serviço não ser pago pelo paciente diretamente ao médico, mas pela operadora do plano. Isso gera algumas imperfeições: são solicitados mais exames do que o necessário; os pacientes relaxam no número de consultas; o custo de administração dos planos é alto e o preço não é combinado entre comprador (o paciente) e vendedor (o médico).

Enfim, são mercados diferentes, cujos preços refletem suas peculiaridades e imperfeições. Os médicos merecem ganhar bem por várias razões. Mas, a comparação com o mercado do sexo não foi feliz. É preciso buscar melhores argumentos.

José Pio Martins, economista, é Reitor da Universidade Positivo.

OS MALDITOS CAPITALISTAS

Eu fazia palestra sobre empreendedorismo para um grupo de jovens, e havia na plateia um sujeito que destoava da turma por ter o dobro da idade da garotada e ostentar uma barba branca. Ele pediu a palavra e disse que a miséria do mundo somente acabará quando acabarem os “malditos capitalistas” e não houver mais empresários privados. Pedi que ele explicasse três questões:

a) como seriam as unidades produtivas no seu sistema, quem as montaria e as dirigiria?
b) como seriam as decisões de o que produzir, quanto produzir e para quem produzir? c) qual a garantia de que haveria o máximo de produção possível?

O sujeito confessou-se anticapitalista, saudosista do comunismo, embora sem instrução formal em economia. O debate foi educado, e ele ficou apenas na bronca antiempresarial e na indignação com a pobreza. De minha parte, aventurei algumas explicações.

O conceito de empresa surgiu com a descoberta da agricultura, há 10 mil anos. Um dia, um homem escolheu um pedaço de terra livre, cortou o mato e convidou outras pessoas para ajudar no plantio e na colheita. Em pagamento, o homem ofereceu, aos que o ajudaram, uma parte da safra.

Esse homem disse, aos operários, uma frase que deu origem à propriedade: “Isto é meu”. Todos aceitaram, pois qualquer um poderia seguir viagem, pegar um pedaço de terra livre e também dizer: “Isto é meu”. A coisa foi evoluindo e esse homem passou a tomar decisões de cuidar da terra, organizar as tarefas, orientar os ajudantes e fazer a partilha da colheita. Foi aí que surgiram o empresário, a livre iniciativa e a liderança.

Num segundo momento, os ajudantes (operários) passaram a ser contratados sem interesse direto no resultado da colheita, pois o proprietário passou a pagá-los com estoques guardados de colheitas anteriores. Os ajudantes recebiam por seu trabalho, fosse a safra boa, ruim ou nula. O risco era do dono da terra. Com a evolução da ciência e da tecnologia, o homem-dono passou a comprar ferramentas para ajudar os operários no manejo da lavoura. Foi quando a produtividade (que é a produção por hectare de terra) cresceu acentuadamente, propiciando que ambos se beneficiassem: o operário, que pôde ter um pagamento maior, e o proprietário, que pode reter uma safra maior.

Os séculos se passaram e, um dia, alguém resolveu dizer que “ninguém mais poderia ser dono, nem da terra, nem da fábrica”. Surgia o comunismo. O Estado seria proprietário de tudo, nomearia gerentes para cuidar de cada unidade de produção (empresa) e a colheita seria dividida com todos. Marx e Prodhoun diziam que “toda propriedade é um roubo”. Só que eles não contavam com uma armadilha: sem dono das terras e das fábricas, ninguém mais tinha grande interesse individual no tamanho da produção.

A princípio, a ideia era boa: dar a todos uma fatia igual no resultado. Mas o que se viu foi uma coisa simples: desprovidos de incentivo, os gerentes e os operários, tantos os rurais quanto os industriais, deixaram a produção despencar, disseminando fome e miséria. A União Soviética foi o berço dessa experiência de engenharia social, que durou setenta anos, deixou um rastro de fome e de pobreza e desmoronou em 1989. Mas, lá, a fome não se originava da má distribuição da produção. Originava-se do fato de não haver produção.

O comunismo, defendido pelo sujeito na plateia de minha palestra, fracassou completamente e os malditos capitalistas foram chamados para empreender, produzir e enriquecer. Quando perguntaram a Deng Xiaping, Secretário-Geral do Partido Comunista Chinês, que conselho daria aos jovens do país, ele respondeu: “Enriqueçam! Enriqueçam!”.

Pois bem, o capitalismo é isso: um sistema de propriedade privada dos meios de produção, que incentiva o risco e o espírito empreendedor e promove a riqueza dos “malditos empresários”, tudo para que a sociedade tenha o máximo de produção possível, sem o que não há como melhorar a vida de todos. A briga pela distribuição de renda é boa quando existe renda (a outra face do produto). Quando não há renda, a briga pela distribuição é a disputa pelas migalhas. Até Karl Marx reconheceu isso, quando disse, na “Ideologia Alemã”, que “enquanto não houver aumento da produtividade capaz de gerar abundância, a briga pela redistribuição de fatias do bolo será apenas uma briga pela ‘die alte Scheisse’ (a velha merda)”.

Foi essa historinha que contei para a garotada e o barbudinho socialista. Ele gostou, mas acho que não se convenceu. Para muitos, o comunismo é religião.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.

ASPECTOS DA INCERTEZA

A incerteza pode ser definida como a dúvida diante de duas ou mais alternativas. Incerteza é desconhecimento e ela desempenha papel central nas decisões de investimentos. O problema é especialmente complexo nas decisões de investimentos empresariais de prazo longo cujos riscos sejam muito altos no caso de ocorrerem cenários negativos.

Há incertezas espontâneas e incertezas criadas. As espontâneas dizem respeito aos fenômenos da natureza e aos fenômenos sociais não controlados diretamente por ninguém ou de baixo poder de controle. Neste grupo se encaixam as chuvas, as secas, os furacões, os eventos de mercado (como a inflação e as recessões) e os distúrbios políticos (como os ocorridos no Egito, na Líbia e na Tunísia).

No segundo grupo estão as incertezas criadas, em geral, pelos governantes. Clima hostil ao investimento privado, hábito de não respeitar contratos juridicamente perfeitos, rompimento de regras previamente acordadas, mudanças constantes na legislação de tributos, rejeição ideológica ao lucro, estes são eventos criados por governos, cujo efeito principal é assustar e afugentar os investidores. Uma região dedicada à busca de investidores terá maior ou menor êxito dependendo do grau de incerteza vigente.

A questão é que as incertezas, espontâneas ou criadas, produzem riscos, cabendo ao empreendedor a decisão de corrê-los, assumi-los ou desistir do negócio. Quanto às incertezas espontâneas, não há o que fazer, pois ninguém conhece o futuro e os fenômenos da natureza e os eventos sociais são, em maior ou menos medida, incontroláveis. No máximo, é possível examinar o passado, observar o presente e imaginar os cenários futuros possíveis.

O caso das incertezas criadas é diferente. Estas são obras dos governantes e estão sujeitas às decisões políticas. Logo, elas podem, por atos de gestão, ser minimizadas ou eliminadas. A base da economia e do progresso é o setor produtivo e não o governo, e é da economia privada que o governo tira os recursos necessários para sua própria subsistência e para os serviços públicos. Assim, criar incertezas por atos políticos, a ponto de potencializar riscos e provocar fuga de investidores, é comportamento estúpido.

Note que há diferença entre correr riscos e assumir riscos. Uma companhia de seguros assume riscos; seus segurados correm riscos. Ao possuir um veículo, você corre o risco de ser roubado ou de sofrer acidente no trânsito. Você não controla esse risco, ainda que tome cuidados para minimizar a probabilidade de sua ocorrência. As seguradoras, por sua vez, assumem riscos sobre base confiável de cálculos probabilísticos; por isso, elas apresentam lucros em seus balanços. Elas assumem o risco que o cliente corre e, se houver sinistro, pagam o prejuízo. Para tanto, cobram prêmios de seguro quando os clientes compram apólices de cobertura.

O que torna o ato apenas um negócio para a seguradora é o fato de ela operar de forma coletiva. Em um grupo de cem mil clientes, é previsível o percentual de carros que serão roubados ou acidentados, e a seguradora oferece proteção mediante pagamento de uns 5% sobre o valor do veículo. Por esse dinheiro ela assume o risco que você corre.

Quando um empresário planeja montar seu negócio, ele o faz sob incertezas econômicas, procura prever os riscos, espontâneos ou criados, e decide que riscos assumir (comprar proteção), que riscos correr e que riscos não enfrentar. Como não há como fazer hedge (comprar proteção) contra riscos políticos, o governante hostil a investimentos, que rompe contratos juridicamente válidos ou anula regras combinadas, notoriamente cria clima de fuga de investidores.

Visto sob a ótica do empresário, investir é arte e ciência e requer conhecimento, visão e intuição. O Barão de Rothschild, famoso banqueiro, dizia que o melhor momento para investir é quando o sangue corre pelas ruas. Ele dizia que, na tragédia, os ativos ficam baratos e, um dia, as guerras e os conflitos cessam e os negócios se recuperam. Essa é a hora de colher os lucros. Todos os que compraram ações quando as bolsas despencaram e tiveram paciência de esperar ganharam dinheiro.

Pois bem, se o Estado quiser atrair investimentos, a primeira coisa a fazer é acabar com a criação de incertezas nos gabinetes governamentais. Hostilizar investidores pode satisfazer a necessidade de odiar, mas não é receita de prosperidade.

José Pio Martins, economista, é Reitor da Universidade Positivo.